08 março 2009

amor ou medo

Já era fim de tarde. Não fazia sol. Tudo nublado, mas o calor permanecia. Sozinha, quase pensando em ir para casa, recebi uma companhia. Sentou ao lado da minha cadeira, em cima do meu chinelo de dedo, ficou ali, em silêncio.

Praia de domingo tem esse clima, tem esse jeito. As crianças brincam na beira do mar, os adultos conversam e bebem uma cervejinha, casais de namorados espalhados nas cangas esparramadas na areia e ainda tem a molecada do futebol, que chega, faz as bicicletas de trave e pede pra quem está ao redor: "Ae, tia, dá uma licencinha pra nóis ae".

Ficamos alguns minutos sem falar nada. Entendi o silêncio. Às vezes, não dizer é a melhor das comunicações. Deixar a palavra brotar depois da vontade exata de dizer algo. Deixar o som do diálogo precisar acontecer.

Eu não sabia o que estava acontecendo. Decidi não perguntar. Continuei percebendo as situações ao meu redor. Achava curioso as velinhas tagarelas que tomavam picolé. O moço tentando equilibrar a criança na bicicleta, numa tentativa de ensiná-la a andar sozinha. O pescador com uma rede que de tão pequena, os peixes não sentiam nem cócegas de serem capturados. Divertido reparar tudo isso.

E alguma harmonia pairava neste clima calmo praieiro.

Mas, ali, ao meu lado algo ia mal. Continuei sem tentar saber muito. Fui comprar uma garrafa de água, dei um mergulho. Não queria ser inconveniente. Ao mesmo tempo, comecei a ficar incomodada. Achei que precisava perguntar qualquer coisa e tentar ajudar. Ou entender a surpresa da visita.

Até que ele se pronunciou...

- Bruna, estou com medo.

E um diálogo surgiu:

- Aconteceu alguma coisa, perguntei.

- Não.

- Só estou estranho. Sem respostas. Com medo. Sem saber mais de nada. Angustiado. É como uma dor sem qualquer razão me tomasse por inteiro. Me sinto desprotegido. Uma criança com barba na cara. Eu nunca temi. Mas, agora, ando sem norte. Eu me vejo como esse mar triste de fevereiro. Tudo nublado ao meu redor. Tudo escuro dentro de mim.

Permaneci num silêncio desconcertante. Dessa vez, as minhas palavras não vinham porque não sabia como interpretar o estado dele. E comecei dizendo:

- Thiago, não sei o que te trouxe aqui. Esse seu desespero é descabido, embora, todo sofrimento aconteça por alguma causa. Eu não sei como ajudar. Eu não posso ajudar, na verdade. Até semana passada, éramos namorados. Ontem, você me pediu um tempo. Pensa em mim.

- Eu sei. Mas, eu disse isso porque estou com medo. Eu te amo. Não sei se sou alguém pra te amar tanto. Você sempre está disposta a fazer tudo pra ficarmos juntos. Só não sei o quanto estou pronto para isso. O meu amor por você é muito grande. Estou assustado. Medo de não conseguir ir até o fim.

- Thiago, eu sou mais uma pessoa normal. Carente, com defeitos e buscando me encontrar, igual todo mundo.

- Desculpa!
Ficamos olhando para frente, para o mar indeciso, que vinha e voltava com as suas ondas. Eu não tinha mais nada para dizer. Levantei e falei:

- Está tarde. Vamos embora. Só tem nós dois aqui. A praia está ficando deserta. Carrega os meus chinelos. Eu levo a cadeira. Me abraça?

- Obrigado, por continuar ao meu lado.

7 comentários:

  1. oi amiga.
    acho que preciso conversar com o thiago...me identifico bastante com ele, sabe... Obrigada, lindo o texto.Thank God we will always have the beach.

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  2. eu diria...
    amor ou dor ?
    amor e dor .

    bjos. boa semana!

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  3. simples e complicado, como a vida.

    saudades, minha querida

    bjos

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  4. ai ai...
    bom saber que vocês me lêem!
    afinal, sempre penso em cada uma na hora de tentar uma idéia pra escrever. uma a uma.

    saudade.

    não demorem, porque pra minha "poesia" existir, preciso dos nossos momentos...
    conversas de cetim, caminhadas descontraídas na praia ou o papo sem fim que vai da filosofia ao silêncio sereno do nada.

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  5. o melhor de te ler é que eu consigo ouvir sua voz.

    eu achei um pouquinho de mim.

    mais um post excelente!

    beijo!

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  6. Posso plagiar a Ciça? "O melhor de te ler é que eu consigo ouvir sua voz".
    É que ela conseguiu condensar nessa frase a sensação que tive ao ler esse post.
    Que coisa bela, hein?!

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